sexta-feira, 18 de setembro de 2009

INTRODUÇÃO

O homem, desde o primitivo, sempre foi dependente do mundo vegetal. As plantas são vitais para ele, sem elas a espécie humana não existiria. O homem precisa principalmente, do oxigênio produzido pela plantas para sobreviver.
Observando a natureza o homem descobriu as diversas utilidades dos vegetais. Passou a utilizá-los como alimento, remédio, proteção contra as intempéries (cobertura de casa – sapê – confecção de tecidos etc.) Como alimentos as plantas são fontes de vitaminas, proteínas e sais minerais indispensáveis para a manutenção da vida. Como remédio possuem principio ativo na cura de doenças.
Os Jeje-Nàgó, oriundos do sudeste africano, até hoje, utilizam os vegetais não apenas como alimento e remédio para o corpo, mas, também, para o espírito, daí, sua utilização nos rituais, para prover o bem estar pessoal ou coletivo, cortar magia negativa, afastar o sobrenatural maléfico, atrair sorte e prosperidade, pedir proteção das divindades, provocar transe ou entrar em contato com o mundo sobrenatural.
Com a diáspora Africana, ou melhor, com a vinda de negros africanos, aprisionados como escravo, para a América, estes trouxeram seus rituais e sua visão do mundo vegetal para o “Novo Mundo”. Foram diversos os grupos etnicos que aqui aportaram em levas sucessivas. Primeiro o Grupo Banto nos séculos XVI (Negros da Guiné) e XVII (Negros de Angola). Depois chegaram os Jeje-Nàgó nos séculos XVIII e XIX (Negros da Costa-do-Marfim e do Dahome), inclusive durante o período de proibição do tráfico entre 1816 e 1850.
A chegada dos Jeje-Nàgó no continente americano ocorreu principalmente entre os anos de 1770 a 1850 em decorrência das guerras de conquista e as quedas dos reinos de Öyö e Kétu (a partir de 1789) com o ataque do rei de Abomey, capital do Dahome, a este dois reinos. Este rei, aliado dos colonizadores europeus, forneceu grandes contigentes de escravos que foram trazidos para a América.
Os Jeje-Nàgó ao chegarem no novo continente, se depararam com uma flora tropical muito parecida com a de seu país de origem, porém, as espécies vegetais em sua maioria lhes eram desconhecidas. Surgiu a necessidade de utilizar em seus rituais plantas brasileira com características semelhantes às africanas, então algumas espécies foram substituidas, tais como:
Iroko = Chlorophora excelsa por Ficus doliaria (Gameleira branca)
Amúnimúyè = Senecio abssinico por Centratherum punctatum (balainho de velho)
Osun = Pterocarpus osun por Bixa Orellana (urucum)

Também, espécies asiáticas e africanas foram trazidas por europeus, para fins comérciais, desde o sec. XVI, e, por escravos libertos ou alforriados, que retornaram a África e voltavam fazendo comércio.

Da Ásia vieram espécies como:
- Jaqueira (Artocarpus integrifolia L.) Comércio
- Mangueira (Mangifera indica L.) Comércio.
- Tamarineira (Tamarindus indica L.) Comércio.
- Figueira dos pagodes (Ficus reigiosus L.) Urbanização.
- Bambu (Bambusa vulgaris Schrad.) Urbanização.
- Manjericão (Ocimum sp.) – Condimento/remédio e litúrgia.
- Melão de São Caetano (Mormodica charantia L.) Remédio e liturgia.
- Algodão (Gossypium barbadenses L.) Comércio e liturgia.
- Erva doce (Pimpinela anisun L.) Comércio.
- Tangerina (Citrus nobilis Lour.) Comércio.
- Gengibre (Zingiber officinale Roscoe) Comércio

Os africanos trouxeram:
- Dendezeiro (Elaeis guineensis L.) – Comércio.
- Mamona (Ricinus communis L.) – Comércio.
- Melancia (Citrullus vulgaris schrad.) Comércio
- Inhame ( Dioscorea sp.) – Comércio
- Quiabo (Hibiscus esculentus L.) – Comércio.
- Obí (Cola acuminata Schrad & Endl.) Liturgia.
- Orógbó (Garcinia cola Heckel) Liturgia
- Àrìdan (Tetrepleura tetraptera Taub.) Liturgia.
- Palha da costa, rafia natural (Raphia vinifera P. Beauv.) Liturgia
- Rinrin (Peperomia pellucida (L.) Kunth.) Liturgia.

Também, espécies americanas foram levadas para a África por comerciantes e negros alforriados, dentre elas temos:
- Batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Poir. & Lam.) – Comércio.
- Caju (Anacardium occidentalis L.) - Comércio.
- Fumo (Nicotiana tabacum L.) – Comércio.
- Goiaba (Psidium guajava L.) - Comércio.
- Milho (Zea maiz L.) - Comércio.
- Tomate (Lycopersicum esculentum Mill.) – Comércio.
- Erva-guiné (Petiveria alliaceae L.) – Medicinal e ritual.
- Erva-tostão (Boerhavia difusa L.) – Medicinal e ritual.
- Erva-de-São-João (Ageratum conyzoides L.) – Ritual.
- Vassourinha-doce ( Scoparia dulcis L.) - Ritual
- Língua de vaca (Talinun triangulare (Jacq.) Willd.) – Ritual.

Alguns vegetais de origem européia foram introduzidas por afro-descendentes nos rituais os mais comuns são:

- Arruda (Ruta graviolens L.) que no século 1, Plínio indicava como preservativo da resseca, antídoto contra picada de escorpião, aranhas e insetos. Os gregos e romanos usavam para evitar maus negócios e como proteção contra o sobrenatural. Os ingleses diziam que a arruda simbolizava o arrependimento e sua flor era a “flor do desgosto”. Trazida de Portugal para o Brasil, sempre foi usada contra negativismo e olho grande. Seus galhos eram vendidos pelos escravos como sortilégio.
- Alecrim (Rosmarinus officinalis L.). Plínio dizia que possuía o odor do incenso. Na idade média (1481) era o símbolo da recordação e da fidelidade no casamento. Na linguagem das flores significa saudade. Nos rituais de umbanda é uma das ervas da jurema utilizada em defumação e banhos.
- Jureminha/Agnocasto (Vitex agnus castus L.) Dioscorides (Sec. I) Indicava misturada ao vinho para provocar a menstruação e a lactose na mulher. No homem, “desseca o esperma” obscurece o cérebro e dá vontade de dormir. Na idade média era usada nos mosteiros a título de peitoral, porém, funcionava mesmo era como anafrodisíaco. Na umbanda é chamada de jurema ou jureminha e utilizada nos amacis de caboclos. No candomblé é utilizada por ocasião da iniciação como anafrodisíaco para homens.

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